Pedro Luiz Martins Cruz

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O Poder da Autogestão

Vamos tentar uma abordagem mais simples, partindo de um time, para explicar mais sobre autogestão e autonomia. Detalhando sua capacidade partindo de um propósito para buscar aprendizado, adaptação e a criação de ambientes de alta performance.

01/junho/2022 - 7 minutos de leitura

Sempre que converso com as pessoas sobre autogestão ou autonomia as perguntas são direcionadas para problemas de liberdade completa, como se uma pessoa só é autônoma se tiver 100% de liberdade ou uma organização só alcança a autogestão se todos puderem gerenciar seu trabalho sem restrição.

Minha primeira reação é convencer que é possível e tento mostrar exemplos, casos de empresas que tiveram sucesso e as técnicas usadas. Mas as pessoas fazem caretas das mais diversas como se o que estou explicando fosse algo utópico e só funciona lá longe.

O grande problema dessa abordagem é que os opostos estão se encontrando. De um lado ambiente de baixa autonomia e autogestão, do outro lado casos de alta autonomia e muita autogestão.

Então vamos focar na realidade de um time.

Como funciona um time com autogestão?

Primeira coisa é que o time autogerido sabe o seu propósito, tem conhecimento mesmo que limitado da estratégia que deve seguir, pois se o próprio time vai tomar decisões ele precisa saber onde quer chegar no futuro para tomar a melhor decisão no presente.

Esse propósito é compartilhado com todo o time, ou seja, não fica apenas na cabeça do líder. Se o time todo sabe o propósito, o time todo vai querer saber se estão próximos, distantes ou pelo menos no caminho certo para alcançar o objetivo. Portanto, esse time tem transparência do objetivo e do trabalho para chegar ao objetivo.

Perceba que a restrição existe, um propósito foi definido, eles não estão 100% livres. O time vai trabalhar com a restrição. Porque existe uma restrição, o time vai usar da melhor forma as suas habilidades para alcançar o objetivo e cada integrante do time é a melhor pessoa para saber suas habilidades, então a melhor pessoa para decidir como usá-la.

Se para alinhar sobre o objetivo e também definir quem escolhe as atividades exigir muita energia o time vai perder muito tempo e não vai realizar muita coisa. Aí entram técnicas para facilitar isso. Quadros visuais, regras explícitas, métodos de trabalho. Mas como esse time é autogerido, os quadros visuais serão criados pelo próprio time e o time vai ler eles melhor. As regras devem ser discutidas e definidas pelo próprio time e os métodos de trabalho adaptados à realidade do time.

Agora o time está criando novas restrições para eles mesmos. Quando regras são criadas e métodos são usados, o time usa as novas restrições para fazer o seu trabalho e tomar as melhores decisões dentro das restrições.

O poder da autogestão é o poder de criar suas próprias restrições para potencializar o seu trabalho em direção ao objetivo.

Com o propósito definido, regras e métodos de trabalho organizados, agora o time vai executar o trabalho. Este time vai colaborar quando precisar colaborar e vai se cobrar quando necessário.

Vai ter falhas e sucessos assim como qualquer outro time. Mas com um time autogerido, todas as razões para a falha ou para o sucesso estarão dentro do próprio time. Como o time pode definir como fazer seu trabalho, ele não tem como culpar ou bonificar alguém externo. Ou seja, em um time com autogestão a responsabilidade é plena, assim como a recompensa.

Esse time sabe que vai sofrer as consequências e aprende com elas. Isso é a essência para o crescimento do time e a possibilidade de criar um ambiente de alta performance. Se houver desequilíbrio na responsabilidade ou na recompensa vai afetar o aprendizado e sua evolução.

Quanto maior o entendimento de seus atos e suas consequências, mais aprendizado e mais evolução. Por isso times autogeridos alcançam resultados tão elevados. Eles evoluem sempre.

O time vai estar sempre se adaptando. Se houver interferência externa nas decisões do time, vai afetar sua velocidade, seu método de trabalho e suas entregas. Pelo menos até descobrir como lidar com essa interferência, decidindo por novas regras, métodos e técnicas, criando novas restrições.

O problema citado no início desse texto, na abordagem de convencer sobre autogestão e autonomia apresentando exemplos de ambientes autogeridos e autônomos é que as pessoas não percebem uma coisa. O caminho de aprendizado é mais importante do que a solução explicada como exemplo. Pois a evolução continuará existindo, novas idéias, realidades e consequentemente novas restrições irão surgir.

Portanto a autogestão possui restrições e a capacidade de defini-las é o poder para evoluir para níveis de alta performance.

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